terça-feira, 12 de maio de 2015

Diário de uma mãe a tempo inteiro

Vou relatar o meu dia. Vou tentar lembrar-me de tudo o que fiz. Para acreditar que fiz alguma coisa. São 22h30 e estou exausta. Ainda não está tudo feito mas estou exausta. Não fiz tudo o que queria mas estou exausta. E mesmo assim sinto que o meu dia passou e eu não fiz 'nada'.
7h30 a piolha acorda, o pai muda-lhe a primeira fralda, dá-lhe a vitamina D e uns miminhos depois deita-a na nossa cama. Eu dou-lhe maminha e muitos beijinhos. Cheiro, aperto-a. Ela reclama, dá sinais de sono. Levo-a para a cama dela são 8h30, apetece deitar-me outra vez  (de madrugada levei quase uma hora com ela). Olho à minha volta. Tanto para fazer. Não me deito. Começo.
Arrumo a louça nos armários. Prepara o pequeno almoço da pirralha (hoje é pêra, maça, 2 colheres de aveia e 2 tâmaras vai ao lume com um pouquinho de água e fica uma papa bem boa, a ver se é hoje que a faço comer aveia, até a data não se tem mostrado muito adepta).
O meu estomago começa a reclamar, começo a preparar o meu pequeno almoço (papa de cereais com muesli e uma boa caneca de café a ver se acordo). São 9h30 sento-me no sofá satisfeita para desfrutar do meu café. A pequena chora, levanto-me sem ter a oportunidade de sequer dar um gole no café. Vou ao quarto dela, ã minha espera tenho o melhor sorriso do mundo, “bom dia meu amor’ digo-lhe e ela responde-me na sua língua animada.
Levanto-a e a minha espera tenho uma prenda. Mudo-lhe a fralda e entretenho-a com os brinquedos enquanto engulo o meu pequeno almoço. São 10h e ela já dá sinais de fome. Termino o meu e dou-lhe o dela. Adorou a papa repetiu 3 vezes (pequenas quantidades).
Brinco com ela. Dou-lhe mil beijos. Tiro uma foto ou outra. Acho sempre que tiro poucas fotos e hoje é o ultimo dia dos 8 meses. São 10h45 vou para a cozinha. Ela fica a brincar. Preparo ao mesmo tempo 2 sopas para ela. Uma de frango abóbora, batata berinjela e alho francês, a outra apenas com legumes: pastinaca, brócolos, cebola, tomate e cogumelos. Ela começa a choramingar, coloco-a para dormir. São 11h30, entro no banho (com direito a esfoliação e tudo). Ainda não estou completamente vestida e ouço a pequena. Termino e vou ao quarto dela, mais uma prenda. Mudo a fralda, dispo-lhe o pijama e visto-lhe uma roupinha light, está um dia, mais ou menos, bonito.
Tem fome. Escolho a sopa só de legumes para o almoço. Enquanto preparo as coisas faço duas torradas para mim. Comemos juntas e mais ou menos meio dia e meio.
Ela brinca, eu lavo a louça. Coloco a maquina a lavar com as mantinhas do Yofi, que no meio disto tudo vomitou a cama (anda mal do estômago). Tiro a roupa que já estava seca no estendal, dobro-a, arrumo-a no armário, lavo a louça que já era uma montanha, estendo as mantinhas do Yofi. Dou-lhe um beijinho e faço-lhe uma festinha. Ele não está bem. Precisa de ir à rua, mas a pequena quer dormir. Deito-a. Ela dorme, são 14h. Eu Almoço o resto do jantar de ontem (douradinhos com arroz de ervilhas), troco umas mensagens com uma amiga de Portugal. Ela precisa do meu ombro e eu preciso do dela (fazes-me tanta falta Marta). No meio disto tudo vou vendo os emails no PC e uma outra coisa pendentes. Ela acorda. São quase 3 horas. Mudo-lhe a fralda. Dou-lhe um naco de pão para as mãos que ela adora ‘roer’. Visto-lhe o casaco. Enquanto ela se entretém com o pão. Desço o carrinho de passeio, volto a subir, ponho a trela no Yofi e desço com os dois (vivo num segundo andar sem elevador e com escadas de caracol). Passeamos os 3 no parque. O Yofi corre, come erva e vomita mais. Nós damos pão aos patinhos e vimos as cabrinhas na Kinderboderij. Vamos para casa. Com ela ao colo ‘desmonto’ o carrinho de passeio – uma aventura- deixo-o à entrada. Subimos os 3. Preparo-lhe uma metade de uma manga para o lanche. Ela adora. São 16h15. Descemos outra vez. Vamos ao drogista comprar vitaminas. Passamos pelo supermercado para comprar os legumes para o jantar, leite e pão. Vamos para casa. O marido liga para saber se precisa passar no supermercado. Não precisa. Chegamos a casa ao mesmo tempo são 17h30. Damos os beijinhos e os miminhos uns aos outros. Os 4. A pequena vai roendo um palitinho de pão. O pai prepara-lhe, dá-lho o banho enquanto lhe diz como correu o seu dia, passe-lhe o creme, veste-lhe o pijama o banho.  Eu preparo o jantar (cuscuz de frango e legumes, aproveito o frango e alguns legumes que sobraram da sopa dela) coloco a mesa, aqueço a sopa dela e a comida do Yofi (arroz com frango e legumes). São quase 7h e começamos a comer. Todos juntos. Bebo um vinho, ele uma cerveja. Falamos. Sorrimos. Estou cansada. São 7h30 e a pequena está a cair de sono. Começa a choramingar. Começa o ritual, que hoje excepcionalmente foi um nadinha alterado. O pijama já está vestido. O pai coloca a música para dormir (Bon Iver, álbum For Emma, Flume), dançam um pouquinho, dizem boa noite à senhora planta e da janela ao senhor vizinho. Eu tiro mesa. Coloco a roupa dela na máquina a lavar. Boa noite ao Yofi ao papá. Agora somos só nós. Estes 20 minutos que também podem ser 40 num ato de tamanho amor. Dou-te o leitinho que te faz dormir. Gosto tanto deste momento. Estou cansada, os meus olhos querem fechar, mas eu quero olhar-te, assim tão calminha, tranquila, em paz. A dormir nos meus braços enquanto te alimentas de mim. Amo-te.  Coloco-te na cama. São 20h30. Queria não fazer mais nada. Não posso. Posso. Não quero. O homem já lavou a louça. Está a ver futebol. Vou para a cozinha faço um bolo de chocolate e coco (a pequena faz amanhã 9 meses) .O bolo fica no forno e eu estendo a roupa da pequena que entretanto acabou de lavar. O homem pergunta se quero ajuda. Ignoro-o. Não por mal. Estou cansada. Ele percebe. Apanha as mantinhas do Yofi que ainda estavam na rua. O bolo acaba de cozer. Faço a cobertura de chocolate e barro o bolo. São quase 22h30. O homem vai correr com o cão e eu finalmente sento-me um bocadinho aqui. Escrevo. O homem chega, lava a louça suja do bolo, vem ao pé de mim e diz-me “eu já lavei a louça posso comer uma fatia de bolo?” Não! É para amanhã, para os 9 meses da piolha.
Pelo tempo que esta mensagem me levou a escrever, presumo que fiz muita coisa, ou pelo menos não parei um segundo. Fiz tudo o que queria? Não! Não estudei, não fiz exercicio fisico, não organizei as fotos...
Os meus dias não são todos assim (são quase todos, quando não há duas sopas para fazer, há uma casa para aspirar...). Mas também há dias em que há tempo para mais mimo, mais brincadeira, para ler um livro, dançar, fazer palhaçadas.
Não me pagam um salário. É pena. Porque eu acho que sou uma boa funcionária. Comecei às 8h e só parei às 22h30. Sem grandes paragens para comer ou beber café. Não reclamo com o meu patrão, não lhe peço aumento, nem redução de horas de trabalho. Sou uma boa funcionária, dedicada, assídua e pontual, mas não recebo salário.
E gosto tanto deste trabalho. Faço-o com o melhor de mim. Com amor.
São 23h30 daqui a nadinha vamos dormir.
Boa noite.

(deve haver erros/falhas pelo meio mas não me apetece nadinha corrigir isto tudo)

2 comentários:

  1. Ai mulher...
    que me fazes ficar em lágrimas logo pela manhãzinha... Um beijinho grande grande

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  2. Só nós é que sabemos. Nós e as outras como nós. Mas apesar dos apesares, para já, não troco este trabalho por mais nenhum.
    Beijinho.

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